quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rebaldaria ciclista

Sem querer cair na frase feita do "antigamente é que era bom", o tráfego de bicicletas nesta cidade é caótico. Lembro-me do meu pai um dia, - era uma míuda para aí dos meus 8 anos -, que se quisesse uma bicicleta, tinha de lhe prometer que depois iria tirar a carta. Recordo que a essa data, o tráfego automóvel era infinitamente menor do que é hoje. Era naquela altura em que se podia brincar seguramente nas nossas ruas, fosse a jogar à bola, à carica, ao peão ou outra brincadeira qualquer. Mas nesse tempo, andar de bicicleta "impunha" que esta tivesse matrícula e, não fosse o diabo tecê-las, tirar a licença de condução era aconselhável. É lógico que não havia polícias a multar por mau estacionamento, nem a ver se o seguro estava em dia. Mas fui mandada parar um dia, por ter decidido fazer "corta-mato" nas pontes, vindo da Barra, e depois de ter virado directamente para a R. João Mendonça sem ter dado a volta à rotunda.

Os anos passaram, o tráfego automóvel é muitíssimo maior... e a balda é mais que muita. Institui-se a BUGA como meio de transporte previlegiado numa cidade igualmente previlegiada para bicicleta. Considerou-se a construção de uma ciclovia interna (pelo menos há uma amostra na avenida e outra ao pé da universidade) onde num caso até dispõe de semáforos apropriados para o efeito. Porém, foi chão que não deu uvas... ou por outra: deu passas... Incompreensívelmente, as placas de matrícula já não são obrigatórias e a dita "carta de bicicleta" (que raio é isso??) é algo estranhíssimo para as gerações mais recentes.

O resultado está mais do que à vista: as bicicletas invadiram os passeios, circulam em sentido contrário, atravessam-se impunemente à frente de quem quer que seja, existe uma total indiferença pelos semáforos, etc...

Até podemos ter sido pioneiros nesta forma de estar e viver com as bicicletas. Trouxe-nos indubitavelmente um sentido mais ecológico à nossa forma de viver a cidade, de interagir com ela. Se calhar a ideia "readaptada" àquilo que se passava em algumas cidades lá fora, especialmente as holandesas, até faria algum sentido e seria de todo louvavel. Mas a realidade diz-nos que quando comparados com esses modelos, não passamos de uma autêntica anedota. A autoridade é complacente com estas atitudes. E muito sinceramente, parece-me que não há quem ponha mão nisto. Se o tráfego automóvel já era conotado com alguma arrogância, o ciclista também lhe está equiparado.

Será que não seria possível haver um protocolo conjunto entre as autoridades e a autarquia que solucionasse este problema? A cidade dispõe de muitos meios de divulgação de uma nova lei local que impeça este tipo de rebaldaria que parece cada vez maior. Nem se trata de obrigar os ciclistas a "tirarem a carta" ou de terem de "rematricular" as suas viaturas. Trata-se apenas de os sensibilizar para que as suas deslocações obedeçam inteiramente ao que está disposto no Código de Estrada e que as deslocações sejam feitas nos locais e nos sentidos apropriados. Julgo que com um pouco de boa vontade de todas as partes, poderíamos tornar a Capital da Bicicleta um pouco mais ordenada. Ou não?

3 comentários:

Didas disse...

A carta de bicicleta que se tirava antigamente era assim: Ia-se à câmara e um animal que sabia menos que a gente fazia-nos umas perguntas, depois dava-se uma voltinha lá dentro a mostrar que se tinha equilíbrio e pronto. Não servia para nada, aquilo.

Nuno Q. Martins disse...

Boa noite,

Saúdo o aparecimento de mais um blogue aveirense, ainda para mais, com um nome tão sugestivo e que nos diz tanto.

Aproveito para agradecer a ligação ao Código da Vivência, a qual já fiz questão de retribuir.

Cumprimentos e bons posts.

Ponte Praça disse...

Para Didas:

É verdade. Não servia mesmo para nada. No entanto, se bem se recorda, apesar de não servir para nada, não havia a "balda" que há hoje. Pelo menos, o circular-se de bicicleta, obrigava-nos a seguir os fluxos de tráfego, tal e qual como um automóvel, por exemplo. Hoje, parece que a cidade se "abriu" aos ciclistas, de tal forma que numa rua onde haja um sentido proibido, pode ter a certeza que se deparar com um ciclista em contramão, ele não só não se desvia "naturalmente" como ainda reclama a sua posição e "direito" de estar ali. :)

Para Nuno:
Não foi fácil pensar um nome "que nos dissesse muito" :)
Agradeço a sua adição. Apenas pretendo alertar a opinião pública local para estes "pequenos nadas" que coabitam connosco na nossa cidade.